quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

VARIAÇÕES SOBRE O MESMO TEMA





Um dos grandes e imbatíveis sucessos deste ano foi EU SOU A LENDA com Will Smith. Mue irmão, por exemplo, virou um fanático pelo filme, já colocando-o como obra-prima. Pois é, a nova versão é, na realidade, a terceira do livro de Richard Matheson. Matheson é um dos grandes nomes da ficção científica psicológica, junto com Ray Bradbury. Porque a ficção nada mais é que uma desculpa para interpretar e analisar o comportamento humano. A fantasia é pano de fundo para uma crítica à sociedade atual. Gene Roddnebery usou isso para criar Star Trek, já que sua idéia original era uma série passada numa base militar nos anos 60 e os produtores mandaram-lhe um sonoro NÃO. OK, o homem transportou para o espaço e aproveitou para tratar de drogas, hippies, racismo, segunda guerra, guerra fria e tudo mais....... só os nerds de plantão não vêem desta maneira.

Voltando a Eu sou a Lenda, nestas duas semanas li o livro e assisti às 3 versões de filmes. O autor da obra foi o escritor e roteirista de O Incrível Homem que Encolheu. Para quem viu essa grande peça do cinema, é a história de um cara que, devido a uma nuvem radioativa, começa a diminuir, até a níveis sub-atômicos. É a deixa para mostrar a pequenez do ser humano frente ao universo. Essa mesma temática também aparece nessa história de um homem, único sobrevivente de uma praga que transformou pessoas em vampiros. De dia ele sai para matar as feras. De noite é atacado por elas. Existe toda uma explicação na obra literária sobre a praga, o porque do vampirismo e até porque ele não foi afetado. Mas a grande sacada do livro é que ele acha uma mulher normal no meio do caos, só para descobrir que existe pessoas infectadas que conseguiram desenvolver um soro que retarda o avanço da bactéria. E agora, essas pessoas querem matá-lo, porque ele é o grande matador de vampiros. Essa inversão de papéis, de herói matador de monstro para monstro matador dos herdeiros do planeta Terra é simplesmente genial. Ele é capturado e será morto. Daí sua imaginação colocar que ele deixou de ser um humano para se tornar uma lenda. Aquela que assusta os cidadãos à noite.

A primeira versão do filme, Mortos que Matam (1964), com Vincent Price, produção ítalo-americana, é muito fiel ao livro. Até em detalhes mínimos. Só que cai num cacoete que as outras imitaram, o fato de Neville ser cientista e tentar descobrir uma cura. No livro ele quer mesmo é entender o que aconteceu, mas a cura mesmo (ou quase isso) é descoberta pelos vampiros. Muito bem sacado e dirigido, apesar das interpretações exageradas da década de 60. Destaque para a cena final, com Robert (no filme Morgan, não Neville) sendo cerdado pelos quase curados vampiros e gritando EU SOU UM SER HUMANO...VOCÊS NÃO PASSAM DE MUTANTES.
Em 1971 surgiu Omega Man ou A Última Esperança sobre a Terra, com Charlton Heston na sua fase de ficção B. Quando eu assisti na TV, adorei, mas revendo-o agora dá para ver que o filme é uma droga. Neville é um cientista do exército americano que sobra e mata ops zumbis (não são vampiros) à noite. Ao achar pessoas ainda não infectadas tenta achar uma cura. Os zumbis são conscientes e liderados por um ex-âncora da TV. É ele que dá um show no filme, já que quer matar Neville pois é o último representante da Era da Roda. O filme é tão tosco em alguns momentos que quando Roberta está passando na cidade abandonada, a Cçamera dá uma panorâmica e lá no fundo você vê carros passando numa ponte. Terrível. Neville descobre a cura e é morto por uma lança, como no primeiro filme.

Aí fizeram Eu sou a Lenda com Will Smith transportando a história de Los Angeles para Nova Iorque e ainda transformando as pessoas em monstros não conscientes. Neville, aqui também, é cientista e quer descobrir uma cura. No final que foi ao cinema ele descobre-a mas morre. No final alternativo do DVD (que sabe-se lá porque foi desprezado), ele descobre que os monstros não queriam matá-lo. Na realidade o monstro líder só queria sua namorada (sequestrada por Neville para testes) de volta. E Neville acaba sacando que não cura. Que a Terra é deles, os monstros, e deixa NY.

Apesar de todos os efeitos especiais e tudo mais, nenhuma versão supera a primeira ou o livro. Perdeu-se esse sentido que estamos nos destruindo e qual é o próximo passo da evolução ou involução humana. Perdeu-se essa inersão de valores, quem é herói, quem é vilão. De uma certa maneira estamos virando zumbis, monstros e vampiros sem idéia própria. É só assistir Big Brother ou conversar com um fã do programa que você vai sacar o que estou falando.

4 comentários:

Lou disse...

Como assim marido, que coisa mais horrorosa, como você ousa comparar vampiros com fãs de BBB? Eles podem comer gente, mas ainda tem sentimentos, viu?

Saudadeeeeeeeees do tamanho do Brasil, pode me ligar de vez em quando tb viu! Beijão

Marcelo Tadeu disse...

Livro, filmes... tá explicado o sumiço!!
Bom, aí nem posso discutir, pois só vi a "obra-prima" com Will Smith e sei que se for ler o livro e ver os outros filmes, seus imparciais comentários me atormentarão
...

Anônimo disse...

O último parágrafo encerra o texto com chave de ouro, pois toca numa questão que nem todos se apercebem, e não apenas em termos de idéias, ao moldarmo-nos com o mundo ao redor e seus valores a inversão destes (sem querer ser anarquista ou brega), mas também de caráter e integridade (em outras palavras, estamos ficando insensíveis à corrupção e violência, e talvez até, fazendo parte delas...)
Por outro lado, é difícil (mas não impossível) esperar que os espectadores de tais filmes tenham tal iluminação por si próprios, a não ser que nos filmes deixe beeeem explícito. Daí é legal, vc vai a um filme empolgado, pensando em ver sangue, violência e efeitos especiais, e sai dele pensativo e perturbado... Há um esperança, então, e esperança não apenas para que não façam filmes só para entretenimento descartável...

Marcelo Tadeu disse...

Já que vc sumiu e eu vou sumir até o dia 05/01/09, vai por aqui mesmo:
Um feliz Natal e um 2009 repleto de felicidade, realizações, saúde e paz para você e toda a família Consigliere!!!!
Obs.: Se estiver pelo litoral norte, me liga!