quinta-feira, 26 de junho de 2008

O QUE VOCÊ SABE SOBRE A DITADURA?







Estou lendo a série de livros de Elio Gaspari sobre a ditadura militar no Brasil. São quatro obras que vão da deposição de Jango (pessoa que abomino) ao fim do governo Geisel (pessoa que admiro). Estou no segundo, quando o execrável Médici e sua corja de assassinos dominava esse país e a tortura e morte seguiam a toda.

Gaspari - não sabia - é italiano de Nápoles, criado no Brasil. É comentarista da Folha, mas já passou pelo O Globo e pela Veja. Em 1984 iniciou sua pesquisa sobre o período militar graças a uma bolsa do Wilson Center for International Scholars. Sua intenção era escrever apenas sobre Geisel e Golbery, mas chegou à conclusão que era preciso contar toda a história e assim dois livros formam a série Ilusões Armadas e os outros dois, O Sacerdote e o Feiticeiro. O governo Figueiredo não é abordado, já que Gaspari não o acha interessante. Pena.

Os livros criaram furor. A imprensa amou, mas muitos jornalistas, em seus blogs, caíram matando. Isso porque Gaspari nunca usa a palavra golpe para explicar a deposição de João Goulart, chama de terror a luta armada de esquerda e coloca todo mundo (direita e esquerda) no mesmo saco. Obviamente que não dá para se considerar a obra como definitiva. Também é óbvio que existem viéses nos seus comentários e, é lógico, no tratamento de seus "informantes" (Delfim Neto é um que é louvado e poupado no livro). O jornalista porém teve acesso a documentos particulares de Geisel, Golbery e do secretário do ex-presidente, Heitor Ferreira (de quem foi amigo), além de gravações de conversas dos militares. Assim, ao ler os livros, acabamos por saber de coisas até então escondidas. Além disso, a narrativa é cotidiana, fácil de ler e, em alguns momentos, parece um romance ficcional.

Pessoas da minha idade passaram sua infância e adolescência não entendendo nada do que rolava no país. Tinhamos aula de Educação Moral & Cívica (obrigatória, graças ao milicos) e apoiamos as eleições diretas como se fossem tirar o país do caos. Primeiramente, concordo com Gaspari quando ele diz que os civis voltaram ao poder SOMENTE QUANDO OS MILITARES DEIXARAM e que imprensa e manifestações públicas não adiantavam em nada. Depois, que os civis deram continuidade ao caos, isso está mais do que claro.

Tenho admiração por apenas dois presidentes brasileiros. Os dois únicos que considero maquiavelicamente inteligentes e os dois únicos que fizeram seus sucessores: Getúlio (no primeiro governo) e Geisel. Getúlio foi deposto em 1945 (ou 46) pelos seus maiores corregilionários e foi sucedido por Dutra, que era seu "cãozinho de estimação". Geisel pôs Figueiredo como seu sucessor. Obviamente, tanto Getúlio como Geisel eram ditadores, pessoas que não acreditavam em democracia e em direitos humanos. Mas encarando friamente, os dois levavam jeito para o planejamento governamental e em como lidar com seus maiores inimigos (a história da demissão de Sylvio Frota, ministro do exército de Geisel, nêmesis inquestionável do presidente e candidato à sua sucessão é de gritar de emoção). É muito legal
poder saber mais sobre a importância de gente como Don Paulo Evaristo Arns ou Don Helder Câmara. Ou conhecer melhor carrascos como o terrível delegado Fleury e alcaguetes como o cabo Anselmo. Ou ainda entender figuras tão enigmáticas, mistura de herói, sonhador, vilão, soldado e terrorista como Marighella e Lamarca.

Pelamordedeus, não estou caindo aqui no chavão "éramos felizes com os militares" ou "por favor, alguém dê um golpe sobre o PT". Não sou a revista Veja para chegar a esse ponto. Conhecer a história brasileira, todavia, é fundamental para cristalizarmos nossas opiniões ou, pelo menos, saber o porquê de tanta balbúrdia na Terra de Santa Cruz.

Enfim, para quem quiser saber mais, e tirar suas próprias conclusões recomendo a coleção. Eu estou com eles emprestados, mas no Buscapé é possível achá-los com um bom preço.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parece ser muito interessante!!!!... tá anotado o "consiglio"!

Anônimo disse...

Me surpreendeu mais uma vez, e agora, sem Google!