segunda-feira, 28 de julho de 2008

LAMPIAÇO, O REI DO CANGÃO

Não vi no UOL, nem no Terra, nem na Época, mas hoje é o aniversário de 70 anos da morte de Virgulino Ferreira, o Lampião. Figura controversa e mítica, Lampião mistura todas as qualidades e defeitos do bandido heróico, do considerado Robin Hood brasileiro (pela revista Time de 1931), com uma pitada de lenda de faroeste americano. Muitos o acham um herói, outros um socialista, mas parece que a realidade não é bem assim. Lampião era bandido mesmo. Ganhava dinheiro, armas e abrigo dos "coronéis", justamente para realizar serviços contra os inimigos políticos destes. E, nessas andanças, massacrava o povão. Matava e saqueava a plebe que passou a lhe louvar.
Apesar de oficialmente afirmar que entrou para o cangaço para vingar a morte do pai, Lampião e seus irmãos já praticavam pequenos crimes antes do ocorrido. Integrou o bando de Sebastião Pereira (o Sinhô) e em pouco tempo já liderava a gangue.
Lampião era vaidoso e orgulhoso do que fazia. Usava perfume francês, tinha cartão de visita (com sua foto, inclusive) e em uma entrevista dada em Juazeiro do Norte mostrou sua verve mais, digamos, hipócrita:

- Não pretende abandonar a profissão?
(A esta pergunta Lampião respondeu com outra)
- Se o senhor estiver em um negócio, e for se dando bem com ele, pensará porventura em abandoná-lo? Pois é exatamente o meu caso. Porque vou me dando bem com este "negócio", ainda não pensei em abandoná-lo.

- Em todo o caso, espera passar a vida toda neste "negócio"?
- Não sei... talvez... preciso porém "trabalhar" ainda uns três anos. Tenho alguns "amigos" que quero visitá-los, o que ainda não fiz, esperando uma oportunidade.

- Não se comove a extorquir dinheiro e a "variar" propriedades alheias?
- Oh! mas eu nunca fiz isto. Quando preciso de algum dinheiro, mando pedir "amigavelmente" a alguns camaradas.

(Fonte: site de Vera Fereira, neta de Lampião: http://iaracaju.infonet.com.br/LAMPIAO/index.htm)

Segundo site Brasil, Mitos e Lendas de Rosane Volpato (http://www.rosanevolpatto.trd.br/LENDALAMPIAO.html): o líder e seu bando vagaram por 7 estados nordestinos. Lampião era cruel o bastante para, pessoalmente, arrancar olhos ou cortar línguas e orelhas. E mais, se encontrasse moçoilas com cabelos ou vestidos muito curtos, mandava que lhe marcassem o rosto a ferro quente. Em Bonito de Santa Fé, em 1923, ele deu início ao estupro coletivo da mulher do delegado. Vinte e cinco homens participaram da violação.

O Nordeste brasileiro daquela época não era muito diferente do que é hoje, com famílias mandando em regiões inteiras, guerras territoriais, assassinos de aluguel sendo contratados, desprezo do governo federal (Getúlio só se mexeu para acabar com o cangaço depois de MUITA pressão dos políticos nordestinos) e o povo além de viver em uma carestia tremenda, era o recheio de um sanduíche indigesto: de um lado os apertavam a polícia (os volantes) e do outro os bandidos do cangaço. Se não apanhavam de um, eram espancados pelo outro.

Não quero entrar em julgamento de valor. Acho que a figura de Lampião é importantíssima para nossa história. Ele é uma espécie de Jesse James ou Billy the Kid, versão tupiniquim. Isso porque os outros dois também eram assassinos cruéis, procurados e também considerados anti-establishment. B
illy the Kid, nas palavras de seu amigo e assassino, Pat Garret, era um rapaz que "comia e sorria, transava e sorria, matava e sorria". E, mesmo assim, é louvado até hoje. É preciso porém que seja feita uma análise menos romanceada do importante nordestino. O fato de estar aliado aos coronéis já depõe contra ele. O próprio Padim Cícero é, e isso é sabido, um político matreiro e carismático. E nem por isso deixou de virar lenda, beatificado e tudo mais.

Voltando à vaca fria, há 70 anos, numa emboscada em Angico (em Sergipe), graças a uma delação, Lampião, Maria Bonita e mais 11 cangaceiros foram massacrados pelas tropas do "macacos" do Tenente João Bezerra. O líder dos bandidos foi o primeiro a tombar. Suas cabeças foram cortadas e mostradas nas escadarias da prefeitura da cidade de Piranhas em Alagoas, sendo sepultadas somente em 1969. Uma versão do ocorrido explora que, na realidade, o delator os envenenou primeiro (urubus mortos em volta dos corpos corroborariam a hipótese). Daí a facilidade da captura. Nunca ninguém vai saber da verdade.

Acontece que, se a lenda é maior que a realidade, publica-se a lenda. E se é assim, longa vida a Lampião, o rei do cangaço. Longa vida a Maria Bonita e a Corisco. Longa vida ao legítimo faroeste brasileiro.

2 comentários:

Marcelo Tadeu disse...

Taí!!! Mais uma vez: "Consiglieri também é cultura"... aproveitando, o texto está excelente!

FlaM disse...

Que bom que o texto está aqui tb e que foi mantido o título original! Assim fico menos culpada pelo seu tio!
Vc é um ex chique hein? Ex casado e ex aluno, é normal, mas ex vip... é, no mínimo,... vip!
Bacana aqui, outra hora eu volto com calma para olhar. Gosto mais da blogosfera que do overmundo! Só espero que não haja muito mais coisas como mulheres & caçhaça, como "maravilhas" do mundo. Esse tipo de coisa me dá arrepios feministas. mas enquanto for só isso, posso tolerar...
Abraço, Flávia