segunda-feira, 17 de novembro de 2008

SOBRE FIGURAS HISTÓRICAS


Não sei onde esse texto vai me levar, mas vamos lá! Voltando de uma visita a minha filha no sábado vi no painel eletrônico da rodovia dos Bandeirantes os dizeres "15 de novembro - Proclamação da República". É engraçado quando você viaja sozinho o ato de dirigir te leva a pensamentos distantes e surreais. Os meus foram sobre como fomos ensinados na escola no tocante à história do Brasil. Para quem foi criado em governo militar como eu, então, pior ainda. As versões oficiais povoavam a educação no Brasil e aprendemos coisas absurdas que, à luz da razão, mostram-se menos românticas e mais sacanas. Vamos ver....

... o Brasil foi descoberto por acaso, certo? O lance da calmaria, caminho para as Indias e tudo mais. Bullshitt! Portugal já sabia que tinha terra aqui, mesmo porque o Tratado das Tordesilhas, de 8 anos antes do descobrimento, era a revisão de outro tratado (não me lembro o nome) que dava à Portugal um enorme pedaço de água. Os lusos, nada burros como reza a piada, fizeram mudar as coordenadas definidas pela Ilha de Cabo Verde e ficaram com boas terras no litoral da Terra de Santa Cruz.

... a independência doi proclamada por D. Pedro I que amava essa terra varonil e não aguentava mais os desmandos de Portugal, certo? Mega-Bullshitt! Pedro foi instruído pelo pai a declarar a filial independente assim os negócios ficavam na família e não nas mãos de verdadeiros brasileiros natos descontentes. Grande negócio, já que pagamos ATÉ indenização à matriz pela brincadeira.


... Marechal Deodoro da Fonseca foi um grande republicano que mobilizou o país e transformou-o numa grande república, certo? Nope. Fonseca era amigo íntimo e pessoal de D. Pedro II, esse sim um tremendo republicano. Para você ter uma idéia, o monarca dizia que queria que o Brasil se democratizasse e que ELE sairia eleito e só assim seria um estadista legítimo. Deodoro o fez sob pressão de perder seu emprego, a contragosto. E o pobre Pedro, inteligente e sábio, foi exilado.

... Duque de Caxias, patrono do exército foi chamado de Grande Pacificador e lutou bravamente contra as tropas do cruel Solano Lopes. Caxias era, como todo militar em uma guerra, um cruel estrategista. Paraguai perdeu mais de 60% de sua população nessa guerrinha e ainda o que é hoje o Mato Grosso. O Duque mandava massacrar todo mundo e até acusações de guerra bacteriológica ele teve (parece que mandava jogar corpos com cólera nos rios para empestear as vilas paraguais). Mas cuidado com as versões correntes. Tem uma super-esquerdista, escrita por Chiavenato que, pelos comentários, é tendenciosa quanto aos motivos e aos participantes da guerra.

... e Tiradentes? Era um zé-mané nessa coisa toda, o boi de piranha da inconfidência. Como os outros caras dessa brincadeira era todos ricos e influentes, sobrou para um alferes qualquer ser sacrificado. E fico feliz que saber que até sua imagem oficial foi revista já que um alferes do exército não seria barbudo e cabeludo. Fizeram isso para criar imediata relação com Jesus Cristo.


... e os jesuítas? Meu avô, historiador premiado, dizia que a cruz usada nas catequeses era aquela formada no cruzamento da lâmina e na manopla de um sabre, já que os jesuítas foram muito responsáveis pelos massacres aos índios nativos, especialmente aqueles que não queria "ver a luz". O ódio do nonno era tão grande, conforme conta conta minha mãe, que uma vez ele estava na soleira de sua casa, quando um homem bateu palmas e disse ao velho "Boa tarde, eu sou da Companhia de Jesus". Meu avô tascou-lhe direto no estômago: "Jesus nasceu entre burros e morreu entre ladrões. De qual das suas companhias você se refere?". O homem era grande!


Eu já desanquei Lampião em uma postagem anterior. Não é minha intenção fazer troça com a história do Brasil. Só queria, uma vez, ver a verdadeira história ensinada para as crianças, mostrando o sentido das coisas. Obviamente que a inconfidência, a independência, a vinda da família real, a república, a revolução de 30 e a de 64 são importantíssimas para mostrarem como chegamos aqui. Só que não precisa enfeitar demais porque a realidade é MUITO mais interessante!

2 comentários:

Marcelo Tadeu disse...

A diferença do ensino de nossa época para os dias atuais é gritante... não em "contos", mas em qualidade!?! Repasso muitas coisas para meus filhos, não para mudar a história, mas para acrescentar, pois sinto que eles estão "vazios" em relação a nossa cultura... e olha que eles estão em um bom colégio!?!?!!!
Bom, gostei da sinceridade no início, não sabendo onde esse texto ia te levar, mas acabou me levando junto!?! Como estudamos na mesma época, no mesmo colégio...:
- O outro tratado é o "Tratado de Alcáçovas", de 1479, que segundo o Miltão (lembra desse professor?) era só pra "inglês ver", pois já estava tudo definido antes de 1450.
- D. Pedro I foi o que mais se deu bem com a "independência"!!!
- Até hoje as más línguas dizem que na verdade D. Pedro II estava cansado da bagunça por aqui e foi tirar férias permanentes em Cannes...
- Um militar muito próximo (que participou da Revolução de 32) me disse uma vez que Duque de Caxias foi o militar mais rígido (também frio e calculista) que passou por nossas forças armadas... de onde acham que vem a frase "o cara é o maior caxias"?
- Tiradentes... coitado do sujeito. Boi de piranha mesmo!!
- Jesuítas: gostei do seu avô!!!!
- Lampião: sem comentários, pois seu texto postado aqui (e no OverMundo) foi expetacular!

Anônimo disse...

A realidade é triste, pois se tivéssemos acesso à verdadeira história, desconfio que não sobraria um heroizinho histórico sequer, tudo e todos movidos a interesses ocultos, manobras escusas, com imagens e estórias (com "e" mesmo) passados a nós e às crianças como nacionalismo genuíno, homens cheios de honra, moral e caráter. Que piada! Só que a história é construída também no dia-a-dia, e mesmo hoje em dia. Aliás, agora, nesse momento! Vamos ver quantas glórias e exaltações que os livros de história, no futuro, discorrerão sobre os políticos e governantes do momento atual, que hoje podemos pessoalmente ver, ouvir e sentir. Lembrem-se desses nossos dias, para que nosso filhos e netos não sejam também enganados por contos políticos da carochinha...